Faz de conta

Você me desarma impunemente

Com um longo olhar atento,

Já não há bússola que me oriente

Após esse seu olhar sedento.

Você me despe sem censura

Quando distraído me observa

Sem a menor compostura.

Você que tem aroma de erva,

Desconserta minha razão

Se do meu lado se demora...

E sem querer toca minha mão;

Sou toda arrepios nessa hora.

Você que finge não me escutar

Mas que lança um olhar indiscreto,

Quando comenta displicente meu andar.

Diz que abomina meu jeito direto

De sorrir e placidamente caminhar.

Você que tem gosto extravagante,

Anseia loucamente se apaixonar

Por uma dona interessante.

Pois é você que deixa a libido exposta

Nos gestos para que eu note,

Mas na felicidade jamais aposta

Porque só flerta com a morte.

Você me esnoba solenemente,

Jura me encontrar só por acaso,

Mas cora toda vez, porque mente.

Ainda faz um falso ar de descaso.

Você que gosta de plantar ilusão,

Se recolhe num silêncio turbulento

Além dos muros da própria prisão

Porque não vive um momento.

Você que nutre amores na solidão,

Por quem tenho secreto afeto;

Não está nos planos do meu coração.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 21/10/2007
Reeditado em 21/10/2007
Código do texto: T704077
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