Faz de conta
Você me desarma impunemente
Com um longo olhar atento,
Já não há bússola que me oriente
Após esse seu olhar sedento.
Você me despe sem censura
Quando distraído me observa
Sem a menor compostura.
Você que tem aroma de erva,
Desconserta minha razão
Se do meu lado se demora...
E sem querer toca minha mão;
Sou toda arrepios nessa hora.
Você que finge não me escutar
Mas que lança um olhar indiscreto,
Quando comenta displicente meu andar.
Diz que abomina meu jeito direto
De sorrir e placidamente caminhar.
Você que tem gosto extravagante,
Anseia loucamente se apaixonar
Por uma dona interessante.
Pois é você que deixa a libido exposta
Nos gestos para que eu note,
Mas na felicidade jamais aposta
Porque só flerta com a morte.
Você me esnoba solenemente,
Jura me encontrar só por acaso,
Mas cora toda vez, porque mente.
Ainda faz um falso ar de descaso.
Você que gosta de plantar ilusão,
Se recolhe num silêncio turbulento
Além dos muros da própria prisão
Porque não vive um momento.
Você que nutre amores na solidão,
Por quem tenho secreto afeto;
Não está nos planos do meu coração.