OLHARES (LIGEIRAMENTE) GRÁVIDOS

1 - A fala endeusada arqueia-se!

Rebola imprecisas paixões no seu próprio esqueleto.

Paira! Paira numa fina embriaguês e contamina o ar de agora

E destoa a espera particular do sacrifício.

Desejos e reparações calham de resistir,

O poeta engole a vulva e excita-se!

Se choca com a lavra secreta alimentado pela gota endêmica,

Enfrenta o calor da náusea e perfura o “vivre la vie”

Da pós-bomba de 45 - até o fluir das horas de contornar -,

Porque expulsa de si pusilânimes olhares (ligeiramente) grávidos.

Ai... A noite acaba com os virgens lamentando a aventura.

E mais: apossa-se de duas

Ou três longevidades possíveis.

Aqui – neste canto baldio -,

Não há transa homérica com sorvete de aurora,

Mas a porfia há o gozar autogozado

De um tempo que nos resta flagelado.

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2 – Decerto, pensais:

Oh! Como as escritas marginais

Desenham céus inexatos!

Oh! Aptos a martirizarem-se (eles, os céus enferrujados)

Decidem compreender

A contextura emprenhada da ausência.

Penso e repenso...

Concluo que estes céus se desfazem nas lágrimas baldias,

Que arejaremos ante o habite-se dos entreolhares de nós.

Por muito fervor

Ouso desprender-me do colo da algema...

Ainda não me refiz dos longos percalços

Repletos de poemas homo-enigmáticos...

Porque - oh! Vida!

Sob eterna contratura - (re) afio a espada

E esquivo-me de arder no mármore desdito.

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3 – Sei! O negrume foge de si.

Balbucia o féretro ido. A voz comprime o urro do olhar.

A coragem – “semiótica” perfeita da língua engendrada -,

Ajoelha-se em círculos.

Impõe à urdidura da face enigmática:

A solidão dos pássaros noturnos.

Foge-a insurgente da indigna contração,

Ofertando-se gozosa ao pensamento andarilho

Como alguém invisível que deseja beber o fêmeo-esperma

Atado a uma minuciosa imprecisão,

E porque decide impor ao retalhar das condolências,

O fingimento da fuga.

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4 - Sobre si mesma a lâmina se desamua.

Vidas pairam recolhidas.

Reclamam o suor desonesto.

Porque a contragosto

Dissecam sangues rarefeitos,

Contestam o urro que move a diuturnidade da lavra,

E se afastam do aniquilamento

Da espera...

Sim. À espera de si,

O nascimento deflora o perímetro,

E o sereno do instante renova-se à exaustão.

Mas nada que se compare

Ao glúteo do poeta... Nada que se afaste de o teor da ferida,

Nada que um certeiro carrasco não possa desviar

Das ávidas condolências da fala.

Benny Franklin
Enviado por Benny Franklin em 26/10/2007
Reeditado em 31/10/2007
Código do texto: T710774