Sem título(92)

E se disser que te amo

Na palavra insuflada pelo ar que respiras

Pelo ar que me dá vida em tua vida

Pela palavra nas palavras que me fazem respirar

E se disser que te amo

E se disser que te amo

perdendo-me na luz vulgar de todos os dias

Doando-me na demanda da luz emérita que de ti provém

encontrando-me na fonte de claridades do teu ser

Sabendo-me cúmplice em tuas noites declaradas de amor

Tornando-me raro pelo amor que me destinas

Invulgar é o meu amor p´la razão de te saber em razão maior

E desmesuradamente ajustada é a palavra nascente na voz do teu peito em que respiro

E sempre renasço se disser que te amo

Se disser que te amo

Saboreio-te na palavra e no acto transparente da palavra transpirada

Decanto o rio livre no mar selvagem

Decanto-me na verdade do teu sol

Sacio-me na verdade do teu ser

Revelo-me quando me tanges e atravessas sabiamente o meu âmago

A veracidade de nós está no corpo a corpo da nudez

No orgasmo da palavra que escrevo em teu corpo

No teu êxtase fulgurante de jardins sacros e selvagens

Na loucura prodigiosa em que tornamos o último fôlego em primeiro desejo

E até na exaustão de me sentir exausto

Existo e revivo em teu amor

Se disser que te amo

Digo e sinto cabalmente que te amo

Se disser que te amo

Amo-te em mim e pelo teu amor também

Se disser que te amo

Se disser que te amo

Gritarei pela cidade que te quero

Falarei às flores da tua beleza ímpar

Cantarei com todas as aves os hinos que mereces

Serei a força indómita de todos os mares

Serei por ti e para ti

Serei para seres bem-aventurada

Serei em ti porque te amo

Se disser que amo

Dionísio Dinis