Rua

Rua do presente no meio do abismo,

rua de gangues,

de estradas travadas no tempo,

cinzentos na noite escura, mal iluminada.

Rua que no dia seguinte reflete nas vitrines,

nas cozinhas, sozinhas nos asfaltos depredados,

colorida nas fardas das crianças

que pisam e passam por ela alegre e inocentes.

Rua que enche os olhos da mulher que passa

sacola cheia, rebolado faceiro,

da bola que rola na pelada da tarde,

do pecado, da pornografia dos carros estacionados,

dos becos descalços sujo no sangue da vida.

Rua estrada do seguimento, do avivamento,

do firmamento existido dentro de escavações,

livres da culpa, do dolo,

sozinho na alegria e na tristeza,

solitária na perdição,

da rua que será sempre outra parte negra e obscura da alma.