Seguimos Perdidos
Não é esse o nosso caminho. Estamos perdidos,
É em vão buscar agora o EU que deveríamos ter sido!
Sentimos frio e precisamos de algum amor real ou insano,
Nossos olhos se escondem nos objetos cotidianos,
Nessas rodovias de tantos abismos suburbanos,
Nessas rodovias de densas névoas e cansaços,
Como anjos e espíritos frios gritando no espaço,
Corpos obscuros nos embarram nas ruas,
Todos as pessoas são desgraçadas prostitutas nuas,
As quais buscam, invejam e pedem notícias de outras vidas.
Vejo velas a chorar nas casas e em cada santuário religioso,
Vejo tantas perdas e dores nesse pandêmico tempo venenoso,
E no céu gralham pássaros indiferentes e cheios de vida,
Assim como o Espírito de Deus sobre as faces do abismo!
Para nós, os dias e as noites são de esperanças feridas,
Para nós, viver ou morrer são ideias ou crenças ou silogismos.
Os amigos e o mundo são falsos, pois tudo é hostil e está distante,
A felicidade não habita em nós e nem nos campos verdejantes.
Estamos perdidos, mas achamos que sabemos voltar
para o caminho da retidão ou para o seio de nosso lar.
Mentimos diariamente para nós mesmos,
Porque sem mentiras viveríamos, como sempre, a esmo.
Onipresente Deus, onde há a terra prometida do descanso?
A noite ainda é larga, e a morte ri de todos os nossos avanços.
Tombado e triste, como um animal ferido e vilipendiado,
Choraremos em vão pelo dia que chega sem nunca ter chegado...
E nossos olhos, otimistas, seguem confiantes e correndo
Procurando como loucos o caminho certo que continua não havendo,
Como ovelhas que bebem no lago doces águas de egocentrismo,
Dentro da noite que escorre das gotas da chuva o nosso onirismo.
(GIlliard Alves Rodrigues)