Assim mesmo, escreva-me...
Na semana passada recebi uma carta de uma sobrinha que não vejo há mais de um ano, desde o começo da pandemia. Uma "carta de verdade", manuscrita, com envelope, selo,endereço e remetente, contando todas as novidades desses seus tempos...uma cartinha deliciosa, falando de seu dia-a-dia, de gatos, cachorros, leituras e atividades diárias . Amei! E lembrei-me de um poema que eu havia escrito há mais de dez anos atrás, e publiquei aqui. Eu havia escrito o poema pensando em outra pessoa com quem eu também me correspondia... mas enviei esse poema à minha sobrinha por e-mail, (porque infelizmente não estou saindo de casa,nem pra ir ao correio).
Acho que a maior parte das cartas escritas seguem esse mesmo caminho, envolvidas com sentimentos muito parecidos. O que existe em comum entre elas é esse sentimento especial que une a pessoa que envia e a que recebe. Uma raridade em nossos tempos. Aqui está o poema:
Assim mesmo, escreva-me...
(Aos amigos distantes)
Nestes tempos
de pressa desatinada,
as cartas chegam
sempre com atraso
de notícias.
Mas,assim mesmo escreva-me.
Porque toda mágica
do envelope-selos-sobrescrito,
o perfume do papel
a viagem, a entrega,
todo aquele ritual
da espera e de chegada
fazem parte da emoção.
Só o tempo que levaste
para escrever
ou tempo que a guardaste
contigo...
e talvez tivesses enfrentado
chuva, sol, longas filas,
estacionamento difícil.
Ou o mal humor da funcionária
cansada...
Mas pode ser também
que a caixa de correio
fosse bem ali na esquina...
e fizesse parte de tua caminhada.
Ou,quem sabe,se no caminho
uma flor,uma nuvenzinha,uma canção
tivesse chamado tua atenção
enquanto,mesmo sem querer...
estivesses pensando em mim.
E, se ao envia-la finalmente
por um instante te preocupaste
se chegaria às minhas mãos.
Sei que são rápidos os e-mails
e muito mais práticos, confesso.
No entanto, jamais guardarão os segredos
e o encantamento...
dessas folhas escritas,
com a tua caligrafia.
Aquelas que guardarei
em caixas especiais,
de preferência floridas
e terão as nossas digitais
por toda vida.
(13/05/2009)