Coração digital

Uma máquina de escrever,

Qualquer máquina digital actual, é o meu coração.

Lá tem o universo inteiro, pisado, esmigalhado

Por todos os dedos, por todos os mortos

Que nos ficam nas mãos. Há as palavras,

Almas, que espirram dos dígitos,

Exumem-se em versos, em predicados

Ensanguentados, depurados num qualquer chavão.

Preciso desta tinta digital concêntrica,

Que se crava

Em poema,

Em click clack geometricamente irregular.

Deste som a vazio, deste temor telúrico

Do Hades do monitor,

Do abstracto da inexistência,

Da chama intensa do nada computador.

Zero e um, um byte ou um bit tanto faz,

Mas que faz sentir…Ah!

Constantino Mendes Alves
Enviado por Constantino Mendes Alves em 05/11/2007
Código do texto: T724838