A fuga das palavras
Há dias que as palavras descansam,
Lavam-se de significados talvez
Em ruas desertas que descansam de multidões.
Ou desaparecem por segredo,
num convénio de exactidões depois de exauridas
de perversões, de incorrecções de destemperamentos.
Talvez não gostem do uso gratuito, da verborreia, da verve aldrabada,
Talvez se cansem dos cansados,
Dos sujeitos predicados, dos nomes adjectivados.
Todas elas devem regularmente visitar,
A matriz, o grande lago gelado,
o cristal adverbial,
do Verbo,
alto altente, mago do mistério.
Há também dias como hoje
Como se o sangue fosse espada
Que retracta a palavra.
Ou vão para os anjos
Que as usam nos perdões e desculpas ilimitadas
As palavras, talvez apenas tenham personalidade sensível
E fujam deste assassínio em massa,
Ou percebam o seu efeito limitado
Que o que está a dar é ter muito dinheiro,
O mesmo com que se compra o dicionário.