A fuga das palavras

Há dias que as palavras descansam,

Lavam-se de significados talvez

Em ruas desertas que descansam de multidões.

Ou desaparecem por segredo,

num convénio de exactidões depois de exauridas

de perversões, de incorrecções de destemperamentos.

Talvez não gostem do uso gratuito, da verborreia, da verve aldrabada,

Talvez se cansem dos cansados,

Dos sujeitos predicados, dos nomes adjectivados.

Todas elas devem regularmente visitar,

A matriz, o grande lago gelado,

o cristal adverbial,

do Verbo,

alto altente, mago do mistério.

Há também dias como hoje

Como se o sangue fosse espada

Que retracta a palavra.

Ou vão para os anjos

Que as usam nos perdões e desculpas ilimitadas

As palavras, talvez apenas tenham personalidade sensível

E fujam deste assassínio em massa,

Ou percebam o seu efeito limitado

Que o que está a dar é ter muito dinheiro,

O mesmo com que se compra o dicionário.

Constantino Mendes Alves
Enviado por Constantino Mendes Alves em 13/11/2007
Reeditado em 13/11/2007
Código do texto: T736058