A SUJEIRA IMPREGNADA NA ROTINA RESIGNADA (Ari, o gari)

(DA SÉRIE: ECOS DO COTIDIANO)

O homem

retira o refugo das cidades,

sujas de desumanidades.

No sol do meio dia,

em sua meia vida

apanha o rebotalho

das atrocidades

da via e da avenida,

do viário assoalho.

Quanto ainda há de se tirar

de sonhos descartados

nas sarjetas?

Lágrimas escorrem

secas nas valetas.

Rostos apagados,

retratos do esbulho;

nem podem mais chorar:

estão calados,

soterrados

pelos entulhos

que o amanhã irá jogar.

Em sua rotina,

a vassoura limpa,

mas não descortina

o que ficou, infausto,

sob o tapete de asfalto.

Já não há sobressalto

para o

retirante do mundo ...

do lixo

perdeu-se a essência,

quando tudo virou

prolixo.

Parcela

divisível

do seu trabalho, digno ofício,

o enorme restante do orifício

ainda permanece

invisível,

insensível

no infausto calvário

das ruas,

cruas,

cruéis,

cinzéis

do holocausto diário.

Não há mais

nada o que fazer,

dizer, chorar ou rir

há mais para recolher

escombros do existir,

da poeira ferina,

sujeira humana,

da vida severina

da morte urbana,

que todos os dias

vê por aí,

Ari, o gari.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 17/10/2021
Código do texto: T7365775
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