CARTA À CAVEIRA
para Hamlet
Cara caveira minha:
tu não és mais castelo,
fóssil fortaleza do cérebro,
nem cabaré dos instintos
ou cafarnaum da memória;
teu calvário vivo
é agora morto calcário,
tua cor oculta
é agora aberta brancura,
baço amarelo no tempo reto,
-- inpensável, incansável,
sem curvas, correto --,
pois não retorna o dia
em que tinhas cabelo e pele,
em que choravas e gritavas
fonemas sem censura,
tempo alegre na tristeza,
triste na alegria,
claro n’água turva do momento,
tempo em que eras nada e
detinhas a coroa da vida,
cara caveira minha.