A Paineira

Cresceu ali, em meio a tristeza.

A sabedoria da natureza,

Que lhe fez ali presente,

Na saudade do ausente.

Se alimentando da morte,

Pela questão da sorte.

Pois corre pela sua seiva viva,

O chorume do que já não é vida.

No silêncio de sua sombra,

As folhas que o tempo tomba,

Entre as cruzes e lamentos,

Quebrado com o rumor do vento.

Suas raízes adentram os corpos,

É vida entre os mortos,

Pois é assim que ela se alicerça,

Numa terra tão convexa.

Onde há resto de almas e espíritos,

É Impávida como num rito.

Ao esmaecer nas sombras noturnas,

Solitária entre as urnas.

Esperando que o dia amanheça,

E que haverá quem a reconheça,

Talvez num infame impropério,

Ao dar vida ao cemitério.