Por esse tempo

Eis que me sobra tempo

Nesse tempo que se passa

Aqui meio ao largo da vida

Nessa como em outras épocas

Que de tempos em tempos

Toma a tarde como hoje

Sem tempo.

Vasta é a secura do ar

Árida beira que me aguarda

Por todo o tempo que se espera

Nada muda.

O olhar nem procura mais

Vagando no espelho tosco da tarde

E pouco importa, rouca veste

Parcos instantes de música abafada

Na fumaça maciça do ar, rarefeito

O braço que pende na avenida

Faz no aviso luminoso adiante

O soar de mais uma chamada

São tantas ao revés da passagem

Pouco olho os risos calados

Na boca a água mal digerida

Sem mais o querer na gaveta

Aquilo que foi esquecido

Eis que me falta tempo

Passar sem perceber os sinais

Sem água, sem ar, sem sinais

Passar passando o passado

E tocar só no Jardim

Algumas flores ainda resistem

Mais pela única presença

Outros copos foram entornados

Outros tantos ficaram por aí

O tempo faz o seu giro

E no girar o tempo faz recordar.

Eis que me sobra tempo

Em tempo de ficar com a sobra.

E só.

Peixão89

Peixão
Enviado por Peixão em 24/03/2005
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