A CONFISSÃO DE POLIDORO

Por ordem da Deusa

apertei meu elmo

cingi meus lombos

e combati milhares

Antes do sol, as pétalas

trilhas emaciadas

por pés de escravos

a quem não libertei

Construí colunas

entre os mares de Zeus

ergui muros e templos

corrida de tantos pés

Por ordem da Deusa

destruí muralhas

atirei-me em abismos

sacrifiquei bois e pássaros

Nada me feria, nada

comandei frotas pelo Egeu

atingi cumes e fronteiras

roubei o fogo divino

Por ordem da Deusa

combati à esquerda

e à direita tombaram

heróis de ferro e aço

Golpeei povos

calquei meus pés

em caminhos de fadas

prata e doce alabastro

Por ordem da Deusa

destrocei corações

em países do crescente

entre projéteis inimigos

Por ordem da amada e santa

Deusa e senhora dos tempos

aqui estou, herói sem elmo

sem punhal ou lança

Nem Páris nem Heitor

tiveram o destemor

de buscar para si

a dor da espada

Nem Ájax nem Menelau

construíram navios potentes

dos lares desterrados

nem de lança insolente

Aqui estou sem corcéis

nem jóias ou infantes

sem rubor nem palácios

ou poder das falanges

Aqui estou em corpo destronado

soldado que não mais tenta

fugir de si ou da Deusa

fugir do mar ou da santa

Só me restou o corpo

ó Deusa imortal

e o sangue coagulado

a mim próprio reduzido