Amanheceu...

Amanheceu

Parece brincadeira

Mas tudo está de cabeça para baixo

A cara inchada é tão normal

Que ninguém mais disfarça

Aquele olhar fundo, vítreo

Dá o realce patológico de toda manhã

O Sol escapa vadio nas nuvens puídas de fumaça

A rua acorda com aquelas caras medíocres

Caras de bundas

Que transitam sobre a sola da calçada

O despreguiçar é tão chato que dói em algumas costas

E tem aquele

Que ainda está tentando trepar no travesseiro

Outros ainda estão com o mundo caindo na cabeça

Tem aquele que acabou de acordar

Mas que porra! maldiz...

O cabelo está parecendo uma vassoura desarrumada

Um bom retrato da vida

Sonolenta ou calma

Com todos os traumas e neuras de qualquer cotidiano

Catorze para qualquer hora

O barquinho toca numa rádio

Aquela batida do coração encharcado

Deslizando na água do chuveiro

Na privada o atônico vômito de ontem

Sem descarga, sem alça, sem nada

Todas as peças esquecidas numa derrubada cadeira

E o grito agudo daquela sirene, lembra?

Abre, que frase cara

Grande mesmo, como o puta coice que você tomou no estômago

Nem se lembra do que tomou

Pilhas e pilhas de cinzas e mais cinzas

Impregnando no ar o cheiro de tanta fumaça

Abre a janela,

Tome o Sol na cara

Amanheceu mesmo

A brincadeira agora é trazer o mundo de volta.

Peixão89

Peixão
Enviado por Peixão em 25/03/2005
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