A cidade está no homem
às vezes
quando eu ando pelo bairro
eu penso
nessa cidade que
está no homem
como o coração que bate
ali
dentro dele
sem ele mesmo saber,
e todas
as coisas do momento
ficam tão confusas e o
mundo tão
perto
que a minha
caminhada
se mistura
ao sopro dos escapamentos dos automóveis
as veias cinzas que cortam a cidade
ao homem de paletó e pasta que atravessa a rua
ao menino vendendo chicletes no sinal
ao velho olhando no relógio
que horas são
a mulher que acaba de parir seu filho
e em seguida abandoná-lo na porta
de uma casa qualquer
(mas porque não na igreja)
a jovem
que se prostituí na 5º avenida
ao batedor de carteiras
ao louco do hospício Clínica São Cotoleno
e tudo
fica tão sem nexo
e tão sem vida
que parece que o céu vai desabar.
Mas
de certo modo
estar a sós com o mundo
pode parecer uma loucura
porque
tudo fica mais vazio
quando se pensa
muito
e estar na cidade
é já não fazer parte
de nenhuma outra
ou fazer parte desta,
sempre comum.