A cidade está no homem

às vezes

quando eu ando pelo bairro

eu penso

nessa cidade que

está no homem

como o coração que bate

ali

dentro dele

sem ele mesmo saber,

e todas

as coisas do momento

ficam tão confusas e o

mundo tão

perto

que a minha

caminhada

se mistura

ao sopro dos escapamentos dos automóveis

as veias cinzas que cortam a cidade

ao homem de paletó e pasta que atravessa a rua

ao menino vendendo chicletes no sinal

ao velho olhando no relógio

que horas são

a mulher que acaba de parir seu filho

e em seguida abandoná-lo na porta

de uma casa qualquer

(mas porque não na igreja)

a jovem

que se prostituí na 5º avenida

ao batedor de carteiras

ao louco do hospício Clínica São Cotoleno

e tudo

fica tão sem nexo

e tão sem vida

que parece que o céu vai desabar.

Mas

de certo modo

estar a sós com o mundo

pode parecer uma loucura

porque

tudo fica mais vazio

quando se pensa

muito

e estar na cidade

é já não fazer parte

de nenhuma outra

ou fazer parte desta,

sempre comum.

Leo Linares
Enviado por Leo Linares em 30/11/2005
Reeditado em 30/11/2005
Código do texto: T78963