Buraco Negro
Angélica T. Almstadter
Perdi seus olhos na imensidão,
Como me perdi sem direção.
Há muito que não me sabe, não me sente,
Há muito que nem a cor das minhas letras importa;
Se branco, negro ou um colorido insistente,
Tão pouco se atravesso ou não por essa porta...
Sem palavras e sem afeto;
Já não desfilo nesse cortejo.
Se era pra ser objeto, fugi desse projeto
Com destino ao meu desejo;
Mas há um misto de egoísmo e aberração,
Nas trocas e promessas; um jogo,
Carta aberta e descartável; pura sedução.
Me basto, em meu próprio fogo...
Não há lados, nem braços ou amores;
Só teorias sem prática, tentativas desconcertantes,
Procura desenfreada de odores e sabores.
Nada de entrega; só esperas frustrantes,
Tudo engolido rapidamente,
Aposentado no próximo passo,
E o sonho antes sadio, atraente;
Morre sufocado sem laço, sem abraço...