DIVAGANDO

Hora crepuscular...um tenue véu "gris" envolve acariciante num tenro amplexo, os sêres e a terra quiéta e pensativa. A propria Natureza parece em extase, muda, ajoelhada ante a magnificencia do céu, iluminado por um sol morno e dourado, que teima em permanecer, como se tivesse pena de nos deixar.

Hora, em que subjugadas pelas soberanas maravilhas, criadas pelo Supremo Estéta Deus, as almas crentes ou céticas, são atraidas por todas essas coisas espirituais, lindas, que falam ao coração, numa linguagem mistica e quasi divina...É como se ouvisse, a vóz cálida e tenra do Senhor. Ele, que é todo amôr, compreensão, espiritualidade...Suavemente, nos vem uma vontade imensa de meditar, abandonar-se nesse gôso sutil, pão da alma e alimento substancial que dá força, fé, confiança. Viver um futuro antecipando-o; recordar um passado revivendo-o.

Iludir a dôr por uns momentos, ela a infatigavel, que raramente adormece. Anestesiá-la em seu quarto no coração; bater então levemente no quarto ao lado, onde a alegria desejosa de se expandir, permanece encarcerada já que a dôr é quasi absoluta na alma humana!...E assim, sentindo a prisioneira agora livre, palpitar, cantarolar doidamente, uma grande fé, uma extranha fé, nasce avoluma-se e consola. Mansa, em surdina, tão suave e delicada, uma voz toda espiritual nos segrega a imensa, a inesgotavel bondade Divina. Quasi que inconcientes num assomo de ternura, confiança e agradecimento, nossos labios balbuicam sussuram emocionados_

Ave Maria...cheia de graça...rogai por nós...lá no amago, uma vózinha tenue, repete baixinho como num éco_Ave Maria...cheia de graça...

rogai por nós...

É noite; tudo lá fóra mudou; o céu vestiu-se de veludo morno e escuro

cintilando estrelas...

Contemplando-o, continuo a meditar, continuo a rezar e a confiar.