DEIXE ESTAR

Com o sangue empoçado

E pedaços de carne

Espalhados pelo asfalto

Ou em becos apertados

Pode-se fazer um herói

Que vai brilhar nos jornais

E nos noticiários de TV

Com restos de madeira e pregos

Pode-se transformar

As cotas das colinas

Em Cidade-Estado

Uma Polis

Dona de uma segunda lei

Paralela

Que vai encantar

Os sociólogos

E provocar ações humanitárias

E policiais

Não há chance

Para os desgraçados

L’aissez faire

Deixe estar como está

E tente adivinhar o final

Com a falta de esperança

E um punhado de crianças

Sujas na rua

Envolvidas com o malabarismo

E a venda de frutas no sinal

É fácil conseguir uma cena

De cinema, circo ou comercial para a TV

Deixe estar

Que não há chance

Para os desgraçados

Com discursos inflamados

Ou atitudes diplomaticamente discretas

Verbalizadas com o cuidado

Dos diplomados na Sorbone, Yalta

convenientemente

Disfarçadas, protegidas e embelezadas

Por sobretudos Pierre Cardin

E o tempo perfeito, exato

De um relógio Rolex

aprisionado no pulso

Pode-se determinar ações

Anti-terror, de paz, humanitárias

Assinadas com canetas Mont Blanc

E concorrer ao Prêmio Nobel da Paz

É o que se pode ver

É como se pode ver

Deixar estar

Não há chance para os desgraçados

Sylvio Neto
Enviado por Sylvio Neto em 07/12/2005
Código do texto: T81978