Olhos que Falam
Vejo quase todo dia.
De passagem, mas nunca em branco.
É como se o olhar tivesse
um projeto próprio de presença.
A moldura é sóbria, bem traçada —
parece feita pra durar.
E por dentro,
um mosaico em tons terrosos,
com detalhes que mudam conforme a luz.
Às vezes verde, às vezes amarelo,
às vezes só reflexo.
Não se sabe ao certo onde termina a cor
e começa o mistério.
O que me prende
é a sensação de movimento contido,
como quem muda a decoração
sem arrastar os móveis.
Um silêncio que redesenha o ambiente.
E eu reparo.
Com a delicadeza de quem não quer invadir.
Mesmo canto, mesmo instante,
e nunca o mesmo cenário.
Tenho apreço pelo que quase passa despercebido.
Talvez porque vejo beleza
no que se arruma por dentro
pra não precisar dizer nada.