Olhos que Falam

Vejo quase todo dia.

De passagem, mas nunca em branco.

É como se o olhar tivesse

um projeto próprio de presença.

A moldura é sóbria, bem traçada —

parece feita pra durar.

E por dentro,

um mosaico em tons terrosos,

com detalhes que mudam conforme a luz.

Às vezes verde, às vezes amarelo,

às vezes só reflexo.

Não se sabe ao certo onde termina a cor

e começa o mistério.

O que me prende

é a sensação de movimento contido,

como quem muda a decoração

sem arrastar os móveis.

Um silêncio que redesenha o ambiente.

E eu reparo.

Com a delicadeza de quem não quer invadir.

Mesmo canto, mesmo instante,

e nunca o mesmo cenário.

Tenho apreço pelo que quase passa despercebido.

Talvez porque vejo beleza

no que se arruma por dentro

pra não precisar dizer nada.

Danielly Freitas
Enviado por Danielly Freitas em 13/05/2025
Reeditado em 13/05/2025
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