Na Fronteira do Visível

Ele pisa onde a luz se desfaz,

onde o espelho mostra o avesso da paz.

Não traz cetro, mas curva a espinha ao fardo,

não é bardo, mas canta em cada passo.

Lhe tecem mantos que nunca vestiu,

lhe dão reinos que jamais construiu.

É semente na palma do oleiro,

é o primeiro e o último no terreiro.

"Por que me seguem?", indaga ao vento

que lhe traz ecos de mil perguntas.

Cada homem vê um reflexo diferente,

ninguém alcança a sombra que brilha.

É o pão partido antes da fome,

o silêncio no meio do nome.

É o rio que corre no deserto,

o laço que prende sem enlaçar.

Na mesa dos doutores, é enigma,

no olhar da pecadora, abrigo.

É o cálice que transborda vazio,

é o grito que ecoa em silêncio antigo.

O matam cada dia com certezas,

e renasce em cada dúvida nua.

Pois na linha entre o ser e o parecer,

só permanece o que a morte recusa.

É o que é - não o que dizem,

o amor que não cabe em doutrina.

O véu já se rasgou sozinho:

o eterno beija a fronteira fina.

J Starkaiser
Enviado por J Starkaiser em 14/05/2025
Código do texto: T8332158
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