Inverno
Abri as portas e janelas
do meu mundo para você
e para a tua luz entrar.
Luz que refletia pelos teus olhos verdes—
de todos tentavas esconder,
mas eu consegui notar.
Entregaste-te à fraqueza;
recebeste-me com frieza.
Olhaste-me do lado de fora,
disseste que não iria entrar.
Não sei se da boca pra fora
ou por medo de se apaixonar.
Naquele momento, chovia lá fora.
Uma tempestade de vento
derrubou meus quadros,
os enfeites da estante —
abalou meus sentimentos.
Começou a molhar aqui dentro,
e as portas e janelas... eu tive que fechar.
Então, te deixei pelo lado de fora.
Troquei a fechadura.
Joguei as chaves fora.
Dias se passaram desde então.
A neve cobriu a rua.
Espiei, pelas frestas, tuas pegadas...
Mas, para minha surpresa,
ainda estavas ali:
um cadáver coberto de neve,
morto pela própria frieza.
Preferiste tornar-te moribundo
a unir nossos mundos
e deixar a tua luz entrar.
Agora, eu estou com frio e nua.
Despira-me de todas as mentiras
que contara a mim mesma.
Arrancara do corpo as couraças;
do rosto, tantas máscaras.
Estava cansada de fingir —
fingir que seguira em frente,
como quem não sentira
a dor de te ver partir.