ESCULTURA

Na aridez do paredão,

A Vênus quer mover-se:

Dar vida ao pescoço delgado,

Alongar os pés graciosos.

Diante da profecia de que uma jazida

Pode dar ao mundo novo paradigma

Em matéria de beleza, segue-se o usual tumulto de eldorados.

O estranho nome, no entanto,

Desafia os oráculos,

Faz pó dos vaticínios....

E à espera do que manifeste a deusa aprisionada,

Montam-se oficinas,

Talha-se na pedra

O que demandam mercadores distantes.

``Não sei por onde comece'',

Diz um mestre, constrangido,

Enquanto outro reclama

Que "nunca foi tão áspera a vigília".

O caso é que a Vênus,

Mesmo ansiosa,

Não se desprende do bloco.

Expôr-se a ponteiro,

Gradim, buril?

Não. Teima em se manter intacta.

Frente à indecisão que os desmerece,

Os artistas abandonam sítio e obra insinuada.

Um dia,

No momento certo,

Ela irá mostrar-se na forma antevista,

Ou, quem sabe,

Em outro desenho de corpo.

Nelson Oliveira
Enviado por Nelson Oliveira em 10/12/2005
Reeditado em 10/12/2005
Código do texto: T83528