ESCULTURA
Na aridez do paredão,
A Vênus quer mover-se:
Dar vida ao pescoço delgado,
Alongar os pés graciosos.
Diante da profecia de que uma jazida
Pode dar ao mundo novo paradigma
Em matéria de beleza, segue-se o usual tumulto de eldorados.
O estranho nome, no entanto,
Desafia os oráculos,
Faz pó dos vaticínios....
E à espera do que manifeste a deusa aprisionada,
Montam-se oficinas,
Talha-se na pedra
O que demandam mercadores distantes.
``Não sei por onde comece'',
Diz um mestre, constrangido,
Enquanto outro reclama
Que "nunca foi tão áspera a vigília".
O caso é que a Vênus,
Mesmo ansiosa,
Não se desprende do bloco.
Expôr-se a ponteiro,
Gradim, buril?
Não. Teima em se manter intacta.
Frente à indecisão que os desmerece,
Os artistas abandonam sítio e obra insinuada.
Um dia,
No momento certo,
Ela irá mostrar-se na forma antevista,
Ou, quem sabe,
Em outro desenho de corpo.