O DESTINO DAS ANDORINHAS

Nem sei para onde vão as andorinhas

e eu nego-me a segui-las quando me convidam

para o seu voo nas noites de luar

ou nas manhãs de primavera

Vejo-as atravessando os abismos

como se procurassem uma inesperada

brecha no infinito

e eu grito de espanto

Vasculho dentro de mim uma réstea de coragem

para arriscar um consentimento um sim

ao apelo da partida até ao outro lado

deste lugar onde morro

E então descanso e penso noutro dia

assim quando for velhinho e de alma vazia

preparado para abraçar o presente e esquecer

o futuro

Convenço-me lentamente de que para além

do muro separando as fronteiras

haverá uma planície aguardando pela minha chegada

num rasgo de sol

e por isso deixo aí definitivamente de me preocupar

se depois desta noite

meu amor

virá outra madrugada

José António Gonçalves

(inédito.30.5.04)

JAG

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Enviado por JAG em 04/02/2008
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