Brincando de nuvens...

Euna Britto de Oliveira

Pela clarabóia do velho telhado colonial,

Um feixe de luz penetra na sala que se quer mais clara.

Luz que vem de fora, de cima, do sol, do céu...

Eu estou menina, no casarão de uma fazenda.

A sala é ampla, bem mobiliada,

Com móveis escuros entalhados, de jacarandá.

É um salão que dá acesso aos quartos.

Os lençóis e as colchas das camas são brancos,

Não se usavam lençóis coloridos.

Eram todos brancos,

A moda era branca.

A infância é o lugar de estréia de muitas emoções!...

Algumas são tão fortes

Que ficam para sempre.

Era a minha estréia no mundo,

Ou era o mundo que estava me estreiando!

Tanto eu experimentava o mundo,

Como o mundo me experimentava.

Até hoje é assim.

Aquele rio que passava no fundo da casa

Não pára de correr na minha lembrança!...

Água ligeira, feiticeira,

Rio encantado, encantador, estreito, atraente,

Correnteza forte, gostosa, em seus trechos rasos,

E traiçoeiros poços remansosos, fundos!...

Eu sabia onde podia e onde não podia ir,

Mas não era confiável...

Se fugisse e fosse ao rio sozinha,

Se escapulisse, se escorregasse do lajedo ou de um barranco,

No dia seguinte, poderiam contar de mim:

“Era uma vez...”

No rio ou no seco,

Gosto de brincadeira.

Forro o chão com uma esteira para, deitada,

Brincar de nuvens...

Tomo posse de umas montanhas brancas...

Fiscalizo cada desenho que as nuvens fazem.

Viajo...

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 15/02/2008
Código do texto: T861003