Ave, avestruz ! Os que vão correr te saúdam...

Euna Britto de Oliveira

Fiz mamadeira de feltro para aquecer um leite inexistente...

É imaginário o amanhã, tanto quanto o ontem.

Ninguém escapa da avalanche dos séculos,

Quanto mais o ovinho azul de anu que ganhei de presente,

Lá na infância...

Manchadinho de branco, foi só limpar com um paninho,

Ele ficou só azul, cor de um fusca azul.

E a ninhada de ovos roxos, de perdiz, os mais lindos que já vi,

Que alguém seqüestrou no campo e colocou sob uma galinha choca...

Nasceram avezinhas ariscas, geneticamente selvagens...

Uma rolinha fogo-pagou repete sua frase ancestral

E de vez em quando me assusta!

Minha sensibilidade a postos, escuto-a.

Ausculto o meu próprio coração.

Graças a Deus,

Tenho uma cabeça boa.

Tenho algumas coisas boas,

Inclusive a coragem de me expor à vida,

Sabendo que ela traz morte.

Morre um sentimento bonito,

Do qual zelei com fralda e talco,

Calor e carinho...

O que me espera no caminho?

Codorna ou codorniz?

Acaso, um casuar?...

Ema, seriema...

Ave, avestruz!

Teus ovos são enormes,

Tua velocidade, maior ainda,

E os que vão correr te saúdam!

É bom aninhar-me entre cobertores

Com esse quase frio forte.

Dá pra acarinhar sonhos...

Hein, vida?

É para a festa das sementes,

Essa que a morte detesta,

Que você me convida?...

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 19/02/2008
Código do texto: T865972