Sem Justa Causa

Quando me sinto, me canso:

não sei se ainda guardo

um nicho límpo no peito

espécie de inauguração eufórica

de alguns novos sentimentos.

Quem sabe, arrumo um jeito

de me arranjar, a despeito,

deste leito de resguardo

onde o passado que enjeito,

é feito de teias de alento.

Coisas novas, coisas velhas

convivem na paz de momento!

Uma canja pro cansaço

cura querer estragado.

Qu'esse sentir remendado

se não for o timoneiro

de um novo coração

é cobertura de telhas

de vidro, para a paixão.

É figura de retórica

implícita na ilusão,

recomeço rotineiro

dos chavões da sedução.

Ou de novo me acredito,

ou meu sentir estradeiro

não dorme, parte sem pausa.

Do meu peito me demito

com razão, sem justa causa!