APRENDENDO A PEREGRINAR

AS: Estes versos são dedicados aos meus amigos peregrinos, reais e virtuais, freqüentadores do “caminhodafeyahoogrupos” de onde hauri a maioria dos pensamentos, exemplos e observações, muitas vezes literalmente transcritas.

APRENDENDO A PEREGRINAR

Gosto de peregrinar,

De calçar minhas botas,

Por estradas de terra andar,

Carregando mochila nas costas.

Muita alegria já senti,

Nos tantos lugares em que pisei,

Na gente que conheci

Nos caminhos que trilhei.

Com peregrinos que acompanhei,

Mantive conversa séria e banal,

Muito falei e muito mais escutei,

E das conversas fui formando cabedal.

Mostrou-me recentemente,

Um peregrino especial,

Que peregrinar é corpo e mente,

É se ver completo, integral.

E isto é verdadeira verdade,

Pois não há peregrino,

Não importa a idade,

Que sustente o passo com o corpo doente,

Ou que complete o caminho com insana mente.

Aprendi que o caminhar

Com espírito peregrino,

Faz corpo e alma vibrar,

Faz melhorar o tino.

Que o verdadeiro caminho,

Não tem início nem fim,

Começa em qualquer ninho,

E segue pela vida alfim.

Que peregrinar é viagem

Por dentro de cada um,

É se descobrir na paisagem,

Sem necessidade de zoom.

É tratar com igualdade

Toda criatura humana

E sem notar feiúra ou beldade,

Perceber o amor que emana

Do simples ato de andar,

Do olhar admirado,

De quem o vê passar,

Do gesto de agrado

De quem dá abrigo reconfortante,

Água e alimento,

Prosa interessante,

Ou simples cumprimento.

Ensinaram-me que no caminho

O estar só fisicamente,

Não significa estar sozinho.

Lembranças afloram à mente,

E num processo de sublimação,

Viram companhia permanente,

Afastando a solidão.

Para alguns, a peregrinação objetiva

Observar as maravilhas da divina criação,

Estar em oração contemplativa,

Colher Deus no coração.

Outros buscam conchego,

Nas pessoas que no caminho encontram,

Ou em reza silenciosa demonstram

A Deus todo o seu apego.

Há quem diga que certo no caminho é inverter:

Que se deve chorar quando a alegria visitar,

Sorrir quando o cansaço bater,

Seguir em frente, mesmo com vontade de voltar.

Que, para aliviar tensões, o caminho deve ser agradável;

Deve ser seguro, para trazer a paz;

Para haver união, tem de ser amigável;

E o peregrino, para de si gostar mais,

Do seu interior deve ser explorador incansável.

Para todos há igualdade no caminho físico.

Para cada um é diferente o caminho interior.

Oportunidade de, em exercício metafísico,

Entender racionalmente a paz e o amor.

Viver a liberdade nunca vivida,

Soltar as amarras obstantes,

Sentir plena paz e carinho pela vida,

Perceber que o pouco já é bastante.

Mostraram-me ser possível,

Mesmo sem no caminho andar,

Ainda assim peregrinar,

Bastando estar sensível,

Em comunhão fraternal

Com um peregrino irmão,

Que relate integral

Sua peregrinação.

De tudo o que já vi,

Senti, ouvi, ou vivi,

O que mais me emociona

É a freqüência com que, no caminho,

A solidariedade assoma.

Incomum na grande cidade,

Experimenta-a o peregrino,

Com certa assiduidade.

É normal, durante a peregrinação,

Receber dum estranho um mimo,

Repartir água e pão.

Em qualquer situação,

Para ajudar e ser ajudado,

Não precisa ser chegado,

Basta ouvir o coração.

Assim, sigo eu peregrinando,

E nas estradas da vida

Prossigo a vida observando.

De tudo e a todos vou ouvindo:

Confissões, lamentos de dor, risos de alegria...

É o forte pulsar da vida

Que no caminho vou sentindo.

Hegler Horta
Enviado por Hegler Horta em 17/12/2005
Reeditado em 08/04/2006
Código do texto: T87087