FELICIDADE PATÉTICA

Queria refazer as teias e as estrelas contigo.

E, por mais que a madrugada permaneça infinda,

teu olhar abrir-se-á para minha voz pouca e gasta

entre a insônia e a angustia premunindo a tua última noite.

Tuas histórias, folhetinescas e previsíveis, cabem

em qualquer compêndio rabiscado pelo apocalipse,

mesmo sem o quarto evangelho, sem a quarta lua escura,

sem esse quarto cavalheiro mítico, real e guerreiro.

Queria repintar os céus e as flores contigo.

E, por mais exíguos sejamos nós em primavera,

tua simplicidade sobrará pelos cheiros, pelas flores

mesmo quando amassadas, sem graça, nas páginas lidas.

Tuas histórias serão revisadas pelos preconceitos,

em qualquer sopro de lucidez vindo dos cata-ventos

frios, como o gelo do uísque que entorpece o masoquismo

na gagueira das palavras bebidas pela má dicção.

Queria confinar meu olhar nos teus olhos.

E, por mais triste que seja cantar mágoas antigas,

tua intimidade, de pernas cruzadas comigo em insônia,

dividirá à dois esse pavor sem a timidez da perplexidade.

Tuas histórias serão contadas pela minha ironia

quando no sarcasmo do riso frouxo brincar cúmplice

das patéticas horas vagas que se entregarão na condição

humana de sorrir nesse abraço a mais do amor triste!