PSICOGRAFIA

Toma.

Como negar-te o perfume que não é meu

E que dizes que sobeja em minhas mãos?

São os poemas como flores que se arrancam pela raiz;

O silêncio pode ser apenas vontade de não sofrer...

Mas, se dizes que as mensagens que vês

Deixam rastros de perfumes, toma, então,

Colha as flores que moravam no silêncio,

Longe das escarras, dos escárnios, do mundo.

Chorarei depois, em silêncio...

Batei e abrir-se-vos-á,

Eu bato às portas dos lugares altos,

Que se derramam em bálsamos

Para os cântaros que lavarão feridas...

O que me importa a dor de ver

E saber que o meu lugar é nesse desterro?

Lágrimas são lágrimas, as de sangue,

É só porque a carne se dilacera

Nas viagens de ir aos lugares distantes...

Emprestaras as tuas mãos

Para que delas brotem fluidos

E, quem sabe, um bálsamo

Para alguma das minhas dores...

Poemas são flores de estranhas sementes

Há tanto tempo semeadas no solo quente

Do coração dos Poetas, algumas germinam

Até por descuido do tempo ou por saudades do perfume,

Entranhando suas raízes bem fundas, em busca das suas cores...

Que o teu mister seja leve

Como o copiar dos primeiros desenhos pelas crianças,

Mas, se esta arte um dia deixar sinais que te levem a criar,

Crie, ainda que os teus dedos tremam e os teus olhos chorem

Ao ver além do véu.

Chico Steffanello
Enviado por Chico Steffanello em 25/02/2008
Reeditado em 01/03/2008
Código do texto: T875550
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