PSICOGRAFIA
Toma.
Como negar-te o perfume que não é meu
E que dizes que sobeja em minhas mãos?
São os poemas como flores que se arrancam pela raiz;
O silêncio pode ser apenas vontade de não sofrer...
Mas, se dizes que as mensagens que vês
Deixam rastros de perfumes, toma, então,
Colha as flores que moravam no silêncio,
Longe das escarras, dos escárnios, do mundo.
Chorarei depois, em silêncio...
Batei e abrir-se-vos-á,
Eu bato às portas dos lugares altos,
Que se derramam em bálsamos
Para os cântaros que lavarão feridas...
O que me importa a dor de ver
E saber que o meu lugar é nesse desterro?
Lágrimas são lágrimas, as de sangue,
É só porque a carne se dilacera
Nas viagens de ir aos lugares distantes...
Emprestaras as tuas mãos
Para que delas brotem fluidos
E, quem sabe, um bálsamo
Para alguma das minhas dores...
Poemas são flores de estranhas sementes
Há tanto tempo semeadas no solo quente
Do coração dos Poetas, algumas germinam
Até por descuido do tempo ou por saudades do perfume,
Entranhando suas raízes bem fundas, em busca das suas cores...
Que o teu mister seja leve
Como o copiar dos primeiros desenhos pelas crianças,
Mas, se esta arte um dia deixar sinais que te levem a criar,
Crie, ainda que os teus dedos tremam e os teus olhos chorem
Ao ver além do véu.