A Beira do Cais

Permaneço sentado à beira do cais,

Aguardo a chegada de um navio que nunca partiu.

No lusco-fusco avermelhado do alvorecer,

Deixo-me ficar aqui, olhando as chegadas e partidas.

Vivendo a angústia de ser tão fascinado pelo ir e vir das embarcações,

Sentindo, lá no fundo, que nunca partirei para lugar algum,

Pois tenho raízes por demais fincadas nesta terra já visitada por tantos navios.

Admito a minha sina de acompanhar o vai-e-vem dos navios no mar.

Sinto o vento impregnado com o cheiro da minha infância.

Relembro os ensinos escolares que nos revelam as fugas de reis,

Fugindo de tiranos generais e piratas sanguinários.

Ouço ainda as narrativas de quem jura ter visto sereias nadarem até seus barcos,

Em cadência ondulada como golfinhos – Saltando e mergulhando sobre as ondas.

Outras que se sentam nas rochas e penteiam ondulados cabelos,

Aguardando aqueles que se arriscam a se lançarem no mar,

Buscando momentos de amor, perdem suas almas, pois já não conseguem voltar.

São histórias daqueles que viveram épocas diferentes, viram navios diferentes,

Por certo, devem ter sonhado sonhos diferentes, mas eram igualmente fascinados,

Pelo ir e vir das embarcações no mar que cerca a cidade.

A noite já vem caindo, vejo na linha escura do horizonte distante,

Futuros navios que aguardam na barra a ordem para atracação.

É hora de retornar para casa e permanecer debruçado na janela,

E continuar fascinado com o vai-e-vem dos navios,

E manter certeza de que o navio que aguardo chegar, nunca partiu.

Laerte Creder Lopes
Enviado por Laerte Creder Lopes em 29/02/2008
Código do texto: T881563
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