Chegou o inverno

“Os pássaros se foram... foi-se o estio...

chegou o inverno... já não cantam mais.”

(Nicolino Limongi, “Velha Faculdade”)

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As nuvens tomam todo o céu azul

e no horizonte o sol já se encobriu.

Janeiro, fevereiro, março, abril,

já chegou maio no hemisfério sul,

foi-se o outono, foi-se o corpo nu,

foi-se o verão, com seu calor voraz,

vestiu-se o corpo, foram-se os pardais,

usaram-se agasalhos contra o frio.

Os pássaros se foram... foi-se o estio...

chegou o inverno... já não cantam mais.

Nas tardes silenciosas já não há

guriatã cantando, o bem-te-vi

calou-se, já não vejo o colibri

beijando as flores, foi-se o sabiá.

A chuva chegou forte, pra ficar,

findando o outono desde o mês de abril.

Os pássaros se foram... foi-se o estio...

chegou o inverno... já não cantam mais.

Tudo é silêncio, cinza... o inverno traz

ao corpo todo enorme calafrio.

Enchentes, desabrigo, desvario,

visão que não esquecerei jamais.

O inverno traz a chuva e tira a paz

de quem não tem abrigo contra o frio.

Os pássaros se foram... foi-se o estio...

chegou o inverno... já não cantam mais.

Só se percebe o som que o vento faz

varrendo as folhas mortas do jardim.

Foi-se o perfume do imperial jasmim,

ficaram poças dágua nos quintais.

As festas barulhentas dos pardais

são só lembranças, como o céu de anil.

Os pássaros se foram... foi-se o estio...

chegou o inverno... já não cantam mais.

O céu azul que prenuncia paz

é coisa do passado. Agora o frio

provoca morte, leva ao desvario,

a chuva é uma constante neste inverno,

o meu jardim não tem nem malmequer,

no meu jardim nenhuma flor se abriu.

Os pássaros se foram... foi-se o estio...

chegou o inverno... já não cantam mais.

Canários, pintassilgos, cardeais

já não gorjeiam, já não dão um pio

à espera do verão, do desafio

de mais um céu azul e um tempo quente,

à espera de estação mais envolvente

enquanto a chuva fria ainda cai.

Chegou o inverno... mas ele se vai,

para que ouçamos cantos novamente.

18/05/2002