Prisioneiro do Espanto

Algo se passava, não sabia o quê.

Era como se algo, de dentro e de fora dele se desprendesse,

E dissolvesse no espaço, algo não sabido nem preciso.

Recobrar de imediato a consciência é o que importava.

Gritar com angústia, sentindo ao mesmo tempo, no apelo perdido,

Um vago sabor de sangue que lhe subia à garganta.

Mergulha então a cabeça nas mãos, angustiado,

Incerto, sem muito entender, prisioneiro do espanto.

- Será sonho? Será pesadelo? - Pensou se recompondo.

Olha o abismo da escuridão em sua frente.

Tomou-o uma angustia infinita, e na tentativa de camuflar a verdade:

- Pesadelo. Felizmente é pesadelo!

Levantando, tentou andar naquele espaço tão minúsculo.

Bem devagar, em passos curtos, dúbios.

Em cada passo, tão difícil, ganhando tão pouca distância, insistiu.

Começou a caminhar sem destino, envolto naquela desesperada sensação,

De ainda não estar reconhecendo as coisas. Quanto tempo já se passara?

Súbito, um sonoro estridente ruído reboou pelo espaço.

Seguido de som de passos que fazia quebrar o silêncio.

Sentiu que se recuperava, ganhava raciocínio e despertava para realidade.

Dominava os elementos. E como um clarão a verdade passou-lhe pela mente.

A impossível comunicação com o mundo externo o desespera.

Tortura-o, dentro da espantosa lucidez, quase tranqüila com que aceita o absurdo.

O crescente terror o desnorteia e ao mesmo tempo seu raciocínio leva serenidade ao seu pensamento.

Não queria negar sua responsabilidade na ação em que participara.

Só lhe restava aguardar a condução a novos interrogatórios, suplícios e torturas.

Mas, nada conseguiriam em seus intentos.

Não era delator. Não entregaria nomes jamais.

No peito a certeza: um dia a justiça triunfará.

Laerte Creder Lopes
Enviado por Laerte Creder Lopes em 10/03/2008
Código do texto: T894496
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