PEÇO DESCULPA

Peço desculpa, pelo que sou

E pelo que nunca serei;

Peço desculpa, pelo que fiz

E pelo que deixei de fazer;

Peço desculpa, pela minha presença

E por quando não estou;

Peço desculpa, pelo que disse

E não cumpri

E cumprindo, peço desculpa,

Por ousar fazê-lo;

Peço desculpa, pelo sonho;

Peço desculpa, pelo inevitável;

Peço desculpa,

Por me estar a desculpar

E, ainda assim, pedir-vos

Que me desculpem;

Só não peçam que me desculpe,

Por ser poeta e fazer da palavra

A espoleta,

Que é tudo menos agrado,

De um qualquer moço de recado.

Peço desculpa, pelo homem;

Peço desculpa, pela culpa

E por me insurgir contra ela;

Por ser este e não outro;

Por ser ora amor, ora confronto,

Peço desculpa…

E peço desculpa, pelas guerras,

Também pela paz;

Peço desculpa, pela hipocrisia

E pela demagogia;

Por aquele que é submisso;

Mas nunca pedirei desculpas,

Pelo que se intromete

E não teme afrontar o siso.

Peço desculpa, por não ter religião;

Peço desculpa, pela má formação;

Peço desculpa, pela diferença;

Peço desculpa, por toda e qualquer ofensa

Que vos tenha provocado,

Mas desta boca nunca ouvirão

A desculpa de um drogado.

Sim, peço desculpa,

Por isto e por aquilo,

Por tudo e mais alguma coisa,

Até pelo que nunca terei culpa,

Mas ah, fica-me a pergunta:

Porque me desculpo eu,

Se sou culpado e faço agrado,

De ser só aquele

Que nunca se comprometeu,

Com o que lhe foi legado

Desde a morte ao berço onde nasceu!

Jorge Humberto

(06/02/2004)

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 23/12/2005
Código do texto: T89881