Mesa

salto de lábio em lábio

como a borboleta inquieta

escorrem por mim

as noites e os dias

não o mel

e neles me perco

sem tempo nem palavras

é breve o dia

é breve a noite

é finito o horizonte

que sei do mar

dos dias e das noites

que sei da abelha

cujo destino

é o mel dos outros

que sei das ruas sem gente

nem mente

nem corpo

que sei do pai e da mãe

do irmão e da irmã

do avô e da avó

do primo e da prima

do sobrinho e da sobrinha

do tio e da tia

que sei da mesa

grande e redonda

círculo perfeito

de conversas risos e choros

verdadeiros

que sei da abelha

que sei da cigarra e da formiga

sempre estupidamente inimigas

onde a mesa grande e redonda

círculo perfeito

de conversas feita

andei por todos os lugares

por todos os lábios

e há sempre outro lugar

outro lábio

que fazer desta espiral

quando a morte

é vulgar sobremesa

sem tragédia

que fazer desta espiral

quando o riso

não é comédia

nem festa

que fazer

sem a mesa

grande e redonda

círculo perfeito

de palavras feita