Dentro de mim

Dentro de mim

maria da graça almeida

Dentro de mim

há um duende sem vida,

morreu de medo de morrer;

há um mofo iminente

na parede umedecida

pelo suor da solidão;

há a inquietude gelada

que flagrou o espectro sonolento

das mais frias madrugadas.

Dentro de mim

há a mágoa advinda

da perplexidade

diante da dormência

dos deuses e dos mitos.

Dentro de mim há um rito

de rebelião com causa,

mas sem efeito ou direito

à perenidade humana.

Dentro de mim há um rio

que dia a dia resseca suas águas,

pois não suporta seguir

sem deixar rastros ou pegadas,

nem tolera ser limítrofe

das terras batidas

por onde a vida passa,

poeirenta e desprevenida.

Dentro de mim,

há o descaramento

que teima em ver -sem poder-

o fundo do poço,

o final da estrada

e o instrumento

que de vez distanciará

o denso, do sutil;

o corpo, da alma,

quando - insensato ou não-

irá submetê-los

à crueza da separação.

maria da graça almeida
Enviado por maria da graça almeida em 02/04/2005
Reeditado em 01/05/2005
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