Com licença, Poetas!

Quando nasci, um anjo distraído,

desses que vivem nas nuvens, desejou:

- Vai, menina! Navegar em águas tranquilas.

Que ledo engano! As águas caminham

rapidamente e eu nem aprendi a nadar.

Preferi deixar que os ventos

vazassem as minhas asas

e rumei ao infinito, com os olhos de uma poeta.

Enxerguei flores nas pedras,

Encantei-me com a tempestade dourada

Afoguei-me num mar de lágrimas

Acreditei no silêncio de cascatas

E num frenesi total,

fiz da vida uma serenata.

E entoei os meus cânticos

Rodopiei nos desencantos

Esfacelei-me em cada canto

Mas meu sorriso, no entanto,

fez uma estripulia na tela

deu-me o cinza no olhar

mas o vermelho no sentir

E pulsei, galguei, investi!

Não naveguei em águas calmas

mas caminho em solo firme

E os meus passos levitam

quando estou a sonhar...

Aí sim, alço os meus vôos

Procuro pelo meu anjo maroto

Que sem harpas, todo absorto

oferece-me um sorriso meio torto

como que procurando luz!

E acendo a minha chama

E brilho tal qual diamante

numa noite de luar

Aconchego-me em sua alma

E sussurro lentamente:

- Grata, por me ensinar a voar!