Poema 0216 - Meia-luz dos corpos
Subimos degraus de uma escada estreita,
onde sentimos o calor aumentar a cada passo,
as mãos um pouco suadas pela ansiedade;
no quarto, apenas duas pequenas luzes acesas.
Na cama, um velho lençol estampado, sugerindo paixões,
nenhum cheiro, não lembro quando chegamos,
apenas das suas vestes que fiz cair lentamente...
uma a uma iam sendo jogadas ao nosso redor.
Olhei direto nos olhos, acho que também nos meus,
senti que estávamos prontos para um dia de amor,
os corpos esperavam toques, suspiros,
nenhuma palavra por enquanto, apenas beijos.
Loucas bocas se aguçavam até entorpecerem,
as mãos passeavam entre dobras e esconderijos,
um certo perfume começou a se espalhar,
ainda de pé, abraços, doces apertos que davam segurança.
Deixei o corpo cair devagar sobre a cama,
em seguida o meu, um e outro sobrepostos,
os beijos continuavam agora mais intensos,
a mão desviava, alisando pequenas porções de pelos.
Ainda à meia-luz nossa nudez quase infantil,
os sorrisos eram de alegria, não pelo ato,
talvez a presença do corpo em outro receptivo,
era a cumplicidade simples de um gostar maduro.
A pele estava sensível e quente quando toquei seu sexo,
percebi que tudo pedia carinho, até o mais improvável,
ainda abraçados, tentei invadir abruptamente,
abri caminho entre suas coxas até desaparecer.
Os ritmos eram constantes, as invasões sucessivas,
ouvimos gemidos e pequenos urros de prazer,
as posições eram trocadas a cada pedaço de gozo,
um e outro corpo se visitavam, molhando de saliva.
Parece que o quarto iluminou-se de todas as cores,
os movimentos cada vez mais frenéticos,
como se ensaiado, tudo era coordenado: mãos, dedos,
bocas, braços... um longo espasmo e o silêncio.
Com carinho ajeito sua cabeça em meu ombro nu,
algumas gotas escorrem, também de suores,
cheiros e prazeres exalam no meio dos sexos,
à meia-luz da paixão, nós, à meia-luz dos corpos.
09/04/2005