A TRÁGICA HISTÓRIA DO PRATO VAZIO

- Para Paulo Pontes, Vianinha, e Eurípedes -

Entre o pão envenenado

e olhos famintos dos dois filhos,

acotovelou a mesa em falso, agora vazia.

eu só quero um pé,

de trigo, de milho ou centeio,

eu só quero um meio!...

Um prato seria o suficiente.

Queria morrer no céu ou na terra viver,

consagrar a hóstia que os livrará da fome.

eu só quero grãos

de arroz, de feijão ou vagem

eu só quero a coragem!....

A mesa de pés descalços,

falseou quando o cotovelo pesou

ao ofertar aquele pão batizado aos incautos.

quero a cova rasa,

o chão, o cravo-de-cabecinha,

quero deitar os filhos sozinha!...

Desequilibrada,

sem nada mais sobre a mesa vazia,

limpou os pratos e não deixou migalha.

quero um aguardente,

um detergente, um rebento,

para morrer entre vômitos meus.