DIVINALIDADE
Vou seguir para Divinalidade.
Lá a pressa não tem nem placa,
a liberdade e a calma se confundem
e o homem, independente de gênero,
com a mesma forma humana vivifica!
Um dia, nos cadernos de escola,
o Criador, vestido de sensibilidade,
me soprou no rascunho: Divinalidade!...
como um nome da cidade sem data de fundada
por mais que as folhas se agarrassem às espirais.
Vou para Divinalidade.
Comprei passagem só de ida,
para mim e para alguns poucos amigos
que se despirem, qual Francisco, de todas vaidades.
Lá, em Divinalidade,
a nudez não afronta o pecado,
as mulheres, sem vergonha dos seios maduros,
os homens, sem vergonha por estarem flácidos,
deitam-se na grama jovem de um novo tempo
e, cada qual com seu cada quem, se buscam
sem algum resquício da promiscuidade!...
Em Divinalidade
não há janela nem quartos,
não há casas nem olhos no meio das paredes,
há sempre uma plantação de ervas comunitárias
de onde se extrai remédios para todas as almas.
Em Divinalidade não há bancos, só os de praça,
não há censura-prévia nem portas ou fronteiras.
Mas nem tudo é paz em Divinalidade!
Lá a discussão é exaurida ao máximo
no porquê, nos porquês dos sins e nãos,
nos senões em buscas do mais-que-perfeito
no achado do emocional sem lógica ou razão.
Lá, em Divinalidade,
a televisão é só referencia para o mundo.
Todos juntos fazem da libertária Divinalidade,
um sonho utópico de uma vida longa, sem ponte,
onde todo o dito, tido, estado sem preconceitos
atravessou dois mil anos da água que bebe a fonte.
Crianças de qualquer idade,
escrevam nos cadernos escolares
o sonho de uma cidade quase utópica,
pois a arte de viver é só para os que sonham
um mundo melhor na célula, na pele, no corpo,
na família, no relacionamento com rascunhos rasgados,
na vida a dez, na vida a mil, na vida em paz da recriação.
... mesmo que as espirais dos cadernos estejam molengas e flácidas.
Vamos mergulhar para fora da janela
dos rabiscos dos ônibus escolares.
Estamos em Divinalidade,
voltemos à precocidade
sem perder a fantasia!