TEMPO NUBLADO (7)

MÚSICA

Ando desesperada,

o tempo todo acordada

num quarto trancafiada.

Não compreendo,

finjo que entendo

a música que toca

na profunda ânsia do tédio;

me faz dançar alucinada

na escuridão iluminada.

O ritmo da música aumenta

as batidas do meu coração

e coisas jogadas ao chão...

Viajo atormentada nas notas

que a música entoa,

viajo no problema que me sufoca,

viajo a noite toda à toa, complicada

e sozinha, viciada

pela música.

QUANDO A MORTE CHEGAR

Quando a morte chegar,

quero apanhar todas as

minhas mentiras.

Quero que o meu sentimento

seja a ira dos apaixonados

e que meus pertences se

consumam na chama de uma

fogueira.

Não será preciso que vocês,

de quem tanto gosto,

venham me visitar, e

nem precisarão assistir

as mudanças

do meu cadáver insepulto.

Quando a morte chegar,

penso que tudo vai

melhorar.

Não sonharei alto demais,

pois já estarei lá no alto,

e nem precisarei me

preocupar com a vida,

porque já não carregarei esta ferida.

Peço: não chorem, quando eu morrer, pois de

qualquer forma morrerei feliz,

por ter conhecido tantas

criaturas que me amaram.

Quando chegar a morte,

não vou para o sul

nem para o norte,

vou na amargura do fel,

voando para o céu.

ELAINE BORGHI

verão de 2006