Nossos fantasmas (sextilhas)

Tere Penhabe

"São cinco espectros de aspectos silenciosos"

(Ângelo d'Ávila")

O amigo é bem mais feliz do que eu!

Se tens somente os cinco que escreveu,

Arrepiantes seres que nos rondam,

És um homem de sorte, podes crer!

Os meus fantasmas vou aqui descrever,

E falo baixo que agora ressonam...

Uma espetaculosa que faz dano,

Diz ter origem no mundo cigano,

Gosto das suas roupas, é verdade...

Mas vive a me causar tanto embaraço,

Confesso que não sei mais o que faço,

Porque estou velha para ingenuidade.

E tem os seus colegas de trajeto,

Que dessa bela estão sempre por perto,

Fazem escarcéu e bebem por demais!

Mas dançam como nunca vi no mundo!

Mesmo quando meu sono é profundo,

Eu sonho e sei que estou pedindo mais.

Depois me chega o clero em oração...

Tem padre, bispo e até um sacristão,

Penso que vêm tentar me convencer,

A confessar os meus erros mundanos,

Mas são pequenos e não causam danos,

Portanto essa alegria não vão ter!

Tem mais um bando de desconhecidos...

O caldo entorna quando os dois maridos,

Entram sem cerimônia ao mesmo tempo.

É uma algazarra que dá gosto olhar!

Nhô Ruim e Nhô Pior ficam a trocar,

Acusações que sempre marcam tento.

Tem também o fantasma de uma velha,

De vez em quando de mim se emparelha,

Tenta me convencer que estou morrendo...

Ás vezes chego até a acreditar,

Que os epitáfios já nem sei contar,

Pois convencida acabo os escrevendo...

Eu quase me esquecia... (Que obtusa!)

De um tal fantasma que me faz de musa,

E escreve odes tão lindas sem parar!

Me chama de princesa e diz que quer,

Que além de musa eu seja sua mulher...

O diabo é precisar de o sustentar!

Por isso sigo assim brincando e rindo,

Nem sempre poetando, mas sentindo,

O louco amor que tenho pela vida!

E quando posso escrevo poesia,

Para não ver direito a estripulia,

Desses fantasmas dos quais sou querida.

Quando vario escrevo picadinho,

Um tal verso esquisito, miudinho,

Tem valia só para cirandar.

Eu desconfio que é de algum anão,

Fantasma que me dá essa inspiração,

Pois mal começo já vejo acabar.

E quando raramente eu fico só,

Confesso: - Dos fantasmas sinto dó!

Faço sonetos que é para contar,

A história que não sei se é verdade,

Porque há muito fugi da realidade,

Já que ela me fazia arrepiar!

E não adianta alguém me dar conselho,

Já tenho a toda hora, do espelho.

Mas sou rebelde, não quero escutar.

Talvez em outra vida eu tome jeito,

Mas nesta já assumi o doce defeito:

- Ser súdita fiel do verbo amar!

Santos, 06.04.2008.

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