Recolhendo almofadas de nuvens - em primeira pessoa
(POEMA PUBLICADO NO MEU LIVRO "DIZERUDITO")

Um dizer antigo cisma que os anjos repousam sobre almofadas de nuvens
e ficam olhando para nós aqui na terra
sorriem ou se entristecem
conforme vamos errando pelos caminhos.
Mas devem ser tantos os anjos a olhar por nós
porque há tardes em que o céu está repleto de almofadas de nuvens
se reparamos bem os anjos têm luzes diferentes.
Almofadas azuis,
verdes,
transparentes,
outras alaranjadas,
tons de carmesim voam leves pelo ocaso.

Anjos são brincalhões, fazem formas com suas almofadas,
fazem cavalos- marinhos,
borboletas,
caldas de sereias,
narizes grandes,
orelhas,
bocas,
brincam até de desenhar corações,
devem fazer isso quando ficam vigiando namoros escondidos.

Quando fazemos amor suas almofadas ficam como bochechas rosadas de vergonha;
se os amores se despedem para sempre
os anjos desmancham suas almofadas em lágrimas
e vagam tristes pelo céu.
Os anjos desamparados devem saber quantas estrelas há no firmamento,
pois choram de saudades contando as estrelas uma a uma.

Sinto inveja dos anjos
que têm almofadas,
que possuem asas,
que chegam perto das estrelas,
que nunca envelhecem
e quando tristes fazem chover.

Tenho um plano secreto, revelo a ti somente.
Descobri lendo as escrituras que há anjos distraídos e brincalhões.
Quando as nuvens estão paradas, sem forma alguma,
é porque algum anjo saiu para brincar, anjos são crianças.
Pois bem, ando a olhar para o céu procurando essas nuvens vagas.
Vou roubá-las.
Inventei um sopro de vento ao contrário para trazê-las até o chão.
Aí vou colocá-las em todos os teus caminhos.
Então, não pisarás mais no singelo da terra,
não precisarás de sandálias,
não sujarás mais os pés.
E sabe mais uma descoberta?
Essas nuvens de algodão que porei aos teus pés
te massagearão o corpo e alma e não sentirás dores nenhuma.
E mais, essas almofadas celestiais têm um outro poder,
quando se deita sobre elas tudo vira canção,
então, mesmo que gritem aos teus ouvidos,
será tudo melodia suave.

Anjos colhem dores

Edmir CARVALHO BEZERRA
Enviado por Edmir CARVALHO BEZERRA em 14/01/2006
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