OBJETO PAR-TI-DO (a rosa louca)


eu sou a rosa branca
tons lilases que borbotam em mim
são ais de outras flores
que transbordam chorosas
nos umbrais dos livros
brotei na boca de um ferro de engomar
que passante fora
ferro de passar história
se acalorou
se resfriou
virou compêndio da escravatura
sólido na biblioteca
o ferro da escrava louca
ainda pouco era um livro
de tanto borralho e assopro no fundilho
ferro rouco de passar roupa
cuspindo fumaça em estribilho
guardou cinzentas histórias nos pulmões
ferro lírico à carvão
se punha em pé no romanceiro
olhando de hora em hora à mesma janela
paisagens seculares em movimento
tempos atrás de tempos
eu sou a rosa louca filha de um ferro antigo
a gaivota com água no bico
morrendo de desejos pelo peixe incógnita
pintado no aquário
primeira paisagem
o mingau feito de via-láctea em pó
a moça elétrica sem tempo para o filho
pensa em novos deleites inconseqüentes
outra paisagem que entrevemos
eu louca e o ferro velho à carvão
tantos amores exalam dos livros
o nariz de meu pai é muito grande
reacende a saudade da escrava louca
ruínas de gotas engelham minhas pétalas
tantas paisagens transmudando-se na janela
meu pai comete suicídio
sou a rosa no raso da biblioteca
filha de um objeto par-ti-do
semelhantes cacos coçavam Jó
deitam sobre toalha engomada
em galeria nobre
uma instalação mais que pós-moderna
na ardósia do atelier clarividente
eu sou a rosa roxa
a rosa esquecida
Edmir CARVALHO BEZERRA
Enviado por Edmir CARVALHO BEZERRA em 14/01/2006
Código do texto: T98860