SONHO

SONHO

Acordado e desperto na manhã

De uma amena madrugada,

Que me pareceu linda e sã,

Espreitei da vidraça: via-a orvalhada…

E tão molhada como olhos

Expostos a cebola descascada

E tão vigorosa como abrolhos

De roseira pré-florada…

Ainda assim, espreitei para a rua,

E espreitei da janela do meu quarto

Julgando ver o que não via

E vendo o que não queria

E o que não queria se assemelhava

A uma donzela que pé ante pé passava

Triste e de tão triste, suas mágoas carpia.

Lágrimas enxugava a moça bela

Da forma que melhor podia

E que por dentro da minha janela,

Olhando-a, me condoía.

Dos seus cabelos toalha faria

E não tendo mais a que enxugar

Meu sofrimento aumentaria

Não fosse o sono terminar

Com um sonho que tudo desmentia.