O VELHO MOINHO

O VELHO MOINHO

Velho moinho da devesa

Ai quanta tristeza,

Ver tua ruína.

E também uma saudade candente

Ao ver morrer também a devesa,

Que contigo compunha a tela

Mais bela

E do mais profundo telúrico.

Sempre haverei de recordar

As tuas paredes aninhas

Da farinha todas branquinhas,

Puras como o luar.

.

Do espadanar da água

Na roda, que te fazia girar;

E a cantiga mais antiga

Feita de uma nota só,

Ao bater da tramela na mó:

Trau, trau, trau

Trau, trau trau,

Noite e dia sem parar.

Velho e feiticeiro moinho

Só tu sabias acalentar

Meus sonhos de menino,

E me fizeste acreditar

Que o paraíso era aí no teu lugar.

Mas aquele menino fez se homem

E as saudades que o consomem

Vez por outra batem de mansinho,

E doem um pouquinho...

Não importa quem propaga

Que só se sente saudades das coisas boas;

As tristes o tempo apaga?...

Mas a saudade não se deixa apagar,

Apenas fica a nos espreitar

Num escaninho qualquer;

E quando menos nos damos conta,

Ela vem nos visitar.

Eduardo de Almeida Farias
Enviado por Eduardo de Almeida Farias em 24/09/2017
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