Orquestra do amanhecer
O amanhecer aqui no rancho,
Pura contemplação se desvela,
Num ecoar de arranjos, e festejos
O sol, cortina que revela
A dança, a sinfonia e arpejos.
Papagaios, num som todo estridente,
No palrar em bandos contente
Avisa que o sol chega todo ardente,
É o brilho, sorriso do regente.
As Arara em seus granidos atropelados
Acorda a orquestra adormecida
Com pardais e andorinhas
Agora, já não mais sozinhas.
A partitura única exclusiva alusão
Nos raios do Maestro sem por as mãos
Despede-se coruja, a pausa, num piar
É hora da noite se separar.
O tucano em exótico de bico
Logo quebra o ritmo acústico
Prepara a pauta e o pentagrama
Dá espaço ao tico-tico.
A percussão som fundamental,
Exclusivo na arte do Pica-Pau.
O olhar assustado do João- de-barro
Que nas canções acusado, chora sua amada.
O beija flor no zunido de suas asas,
Num ballet livre solto do chão,
Voa atento na orquestra,
Quando o piado é do gavião.
E no colorido do som de fato
Até o Pato-do-mato tem sua especial participação
Os urubus, marquinhas pretas na imensidão
São pausa de um tempo, é pura respiração.
A harmonia fica no gracejo da seriema,
Que dá gargalhadas a perder no espaço
São arranjos na orquestra do sistema
Que anuncia do dia o regaço.
O curiango com relógio atrasado
Pia e pia fazendo staccato,
Marcando a orquestra
Dizendo que estes saberes são natos
O curió miudinho que seja
Entra e solfeja sem dó
Segue o sabia todo esperto
Canta de coração aberto
A orquestra aqui no meu terreiro, agora,
Apresenta o cantar das corriolas,
Os quero-queros chegam num contralto exaltado
Pisando de salto alto, fazendo-se notado.
E assim tudo encerrado fosse neste altar
Se não houvesse o periquito,
Num chalrear todo infinito
Encerra a orquestra do astro solar