Meu cansaço não é do cais

Nas soluções da vida há noites eternas
em que açoites de amor são delírios e ais...
O meu cansaço não é do cais...

Venho do mar, já neguei vidas à sua famélica boca,
vidas que seriam ofertadas a Netuno...
Meu cansaço não é do cais...

Teus versos são canções que escondem outra:
a dor de ser uma mulher que sabe bem o que quer...
Abre teu sorriso, cintila teus fonemas coloridos...
Mas num desatino vaticinas: você não vai gostar de mim!

Provocante nos olhares, no carinho suave,
muitas vezes me encanto dos teus cantos
só para te ver invertida do que dizem teus ais...
Seria um desencanto só para não te gostar mais?

Nesse tempo de poemas, mistérios e enigmas
recolho os papéis de pão amarrotados feridos a grafite,
abro os baús dos velhos poemas... invado a horta perfumada...
Mas a porta entreaberta da tapera do abandono
permite que entrem e saiam seletos sonhos solitários...
Por isso, nada mais de rumos, rimas, nada.
Apenas nado no rio ao lado da canoa, meio à toa,
só para saber se você ainda gosta de mim...