Guardanapo de seda

Tenho fome, senhor. Fome.
Vivo na rua, durmo embaixo das marquises, doutor.
Essa fome me compromete e me humilha.
Conforme o dia me beija, seja de chuva ou de sol,
o estomago vazio, pede, de mãos crispadas,
mas em vão, um pão...
Sou invisível para muitos,
sou o indesejado fruto da maldade dos homens,
nem sou dono dessa violência...
Ela me hospeda na carência
como meio de sobrevivência...
Sou cópia de outros tantos danos
que incomodam quando estico a mão
e vomito: ­-uma esmola, senhor, pelo amor de Deus!

O pão nosso de cada dia é uma mórbida piada
enquanto a vida beija as barrigas vazias
e abençoa o sofrimento.
É uma estória triste que esvazia o teu dia e
me faz enlatado, assustado, envergonhado
enquanto teus nãos cospem na minha cara
a mais provável opção de alimento das barrigas vazias...