O casarão
Do alto do morro o velho casarão
Com seus dez olhos na imensidão
Perdia-se nos descampados da fazenda
E quieto espiava toda a extensão
Marcava no horizonte a silhueta
Com o céu turvo cor de telha
Lá onde o sol morno se punha
Por trás daquelas montanhas
No caminho da fazenda
Via-se da janela do carro
O casarão em moldura
Como se fosse pintura
Era uma velha casa grande
Com janelões imponentes
Colunas que se podia abraçar
Enormes portas azuis
Erguiam-se paredes caladas
Do rodapé ao teto caiadas
Seis metros tinha o seu pé-direito
E nas janelas sentava-se aos parapeitos
Subia-se por degraus de mármore
Na escadaria branca feito cal
Que levava as suas varandas
De madeira de lei encerada
O piso rangia engraçado
Parecia porta de castelo assombrado
Era liso aquele chão de madeira
Limpinho, sem nenhuma poeira
Ali vitrais de anjos adornavam a fachada
Por onde a luz esgueirava-se
Nas salas lindos vasos de plantas
Cercavam cadeira de vime, pálidas
Uma larga sacada envolvia o casarão
No andar superior, das janelas dos quartos
Ramos espichavam garoados braços
E escorregavam longas samambaias
Nos dias de sol quente
Quando não se podia esconder
Refrescava-se à sombra do ipê
Que chegava até a porta da frente
Nas noites de chuva
Quando desabava o aguaceiro
Os raios iluminavam a penumbra
E trovões ecoavam no medo
O antigo sobrado nos protegia
Tinha paredes de fortaleza
Cobertas de azulejos
E lindos mosaicos portugueses
Do casarão emanava um calor
E o frio ia se embora
Enquanto a lenha estalava
Na lareira do lado de fora
E depois de tantos anos de pé
Quem sabe como está o casarão?
Uns dizem que foi vendido
Outros contam que havia sido demolido
Mas para mim não interessa
Pois guardo aqui singelas memórias
Do velho sobrado que me amornava
Onde habitavam tantas histórias
Essas lembranças vão sempre comigo
Não importa qual será meu caminho
Emoldurado em meu coração
O casarão se tornou meu abrigo.