O retrato de Oscar Wilde
Na manhã espocam flashes pela cidade
Mais de mil chapas tiradas
Que retratam cartolas
Vestidos rodados
Carruagens de luxo
Existências sem vida
A tarde traz à praça senhoras
Distintas com seus guarda-sóis
Seus senhores de braços dados
Imponentes seguram cartolas
Elegantes balançam bengalas
Impotentes passeiam sem tino
De novo a noite desvela
Nos pubs suas estrelas perdidas
Prostitutas de chita
Passivas na passarela
Dos ébrios que caem nas ruas
Encarnações caídas das brumas
Os pavios correm curtos
Queimam-lhe o rosto nobre
Os passos largos do homem
Impassível nas vias molhadas
Marcham pela madrugada
Pelos postes de Sua Majestade
A lua cheia tarda
No céu de estrelas caladas
Sobre o homem que segue as trevas
A estalar seus saltos
No silêncio da madrugada
Sem olhos para trás
Nada mais a noite oculta
Somente os passos do homem alto
Que escondem no beco escuro
A vítima que sufoca e morre
Na neblina da alvorada cega
Em meio ao denso fog
A mansão aguarda o homem
Que sobe as escadas no raiar do dia
Cortinas cerradas, lareira fria
Na sala lúgubre de tapetes rouge
Velas derretidas nos castiçais sem luz
E mãos de sangue sujam as luvas
No escuro do sótão coberto em poeira
A tela medonha cobra sua alma
Consume sua face sem piedade
Sua mente turva sem calma
Vendido ao diabo não encontra saída
O homem alto sangra nas chagas.