O retrato de Oscar Wilde

Na manhã espocam flashes pela cidade

Mais de mil chapas tiradas

Que retratam cartolas

Vestidos rodados

Carruagens de luxo

Existências sem vida

A tarde traz à praça senhoras

Distintas com seus guarda-sóis

Seus senhores de braços dados

Imponentes seguram cartolas

Elegantes balançam bengalas

Impotentes passeiam sem tino

De novo a noite desvela

Nos pubs suas estrelas perdidas

Prostitutas de chita

Passivas na passarela

Dos ébrios que caem nas ruas

Encarnações caídas das brumas

Os pavios correm curtos

Queimam-lhe o rosto nobre

Os passos largos do homem

Impassível nas vias molhadas

Marcham pela madrugada

Pelos postes de Sua Majestade

A lua cheia tarda

No céu de estrelas caladas

Sobre o homem que segue as trevas

A estalar seus saltos

No silêncio da madrugada

Sem olhos para trás

Nada mais a noite oculta

Somente os passos do homem alto

Que escondem no beco escuro

A vítima que sufoca e morre

Na neblina da alvorada cega

Em meio ao denso fog

A mansão aguarda o homem

Que sobe as escadas no raiar do dia

Cortinas cerradas, lareira fria

Na sala lúgubre de tapetes rouge

Velas derretidas nos castiçais sem luz

E mãos de sangue sujam as luvas

No escuro do sótão coberto em poeira

A tela medonha cobra sua alma

Consume sua face sem piedade

Sua mente turva sem calma

Vendido ao diabo não encontra saída

O homem alto sangra nas chagas.

Fábio Pirajá
Enviado por Fábio Pirajá em 25/04/2008
Código do texto: T961197